quarta-feira, 30 de março de 2011

As pressões para tirar Fernanda Giannasi da fiscalização do amianto




Semana passada, aconteceu nas Astúrias, Espanha, a Conferência Internacional 
da OMS[Organização Mundial de Saúde] sobre Determinantes do Câncer Ambiental 
e Ocupacional – Intervenções para Prevenção Primária.
O consultor ambiental Barry Castleman, dos Estados Unidos, foi um dos conferencistas 
convidados. Testemunha-expert nas cortes americanas e consultor dos principais 
organismos internacionais de saúde, trabalho e meio ambiente em questões 
referentes ao amianto, ele recebeu à última hora telefonema dos organizadores, 
solicitando para que, na palestra, descrevesse as pressões da indústria do amianto 
sobre os profissionais de saúde pública.
“Relatei a situação de Fernanda Giannasi”, observa Castleman. “Não conheço outro 
país no mundo dito ‘civilizado’ onde os ativistas contra o amianto e profissionais de 
saúde pública tenham sido processados ou ameaçados de processo criminal, como 
está acontecendo com essa engenheira de segurança do trabalho.”
“O indiciamento dela pelo FBI brasileiro [Polícia Federal] me parece absurdo”, diz 
Castleman. “Pelo que sei a Justiça a tem apoiado na interdição de exportação de 
cargas de amianto a partir do porto de Santos, já que o amianto é proibido no estado 
de São Paulo. Como pode a Polícia Federal da região portuária tentar incriminar a 
Fernanda por abuso de poder, se ela estava simplesmente fazendo o seu trabalho de 
fiscalização e seguindo a legislação em vigor?”
Castleman refere-se à engenheira de segurança no trabalho Fernanda Giannasi, 
auditora fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e coordenadora da Rede 
Virtual pelo Banimento do Amianto na América Latina.
O amianto é proibido em São Paulo, desde 4 junho de 2008, quando o Supremo 
Tribunal Federal (STF) que validou a lei paulista 12.684, que veda o uso do mineral 
em todo o estado. Foi por 7 votos a 3.
O ministro Carlos Ayres Britto foi um dos que votaram a favor: “A lei estadual se 
contrapõe por modo tão frontal à lei federal que simplesmente proíbe a 
comercialização, a produção, o transporte de todo e qualquer tipo de amianto 
no Estado de São Paulo”.
“Pela primeira vez o STF eliminou as questões preliminares e foi ao cerne 
do problema, tomando por base trabalhos científicos idôneos”, avaliou, na 
ocasião, para Viomundo o advogado Mauro Menezes, das associações 
Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea) e Nacional dos Procuradores do 
Trabalho (ANTP). “O STF considerou de forma muito convicta que todo tipo 
de amianto, em função da lesividade ao ser humano, não se compatibiliza 
com uma questão maior que está garantida na nossa Constituição, que  é o 
direito à saúde e à vida.”
Explica-se. Todas as formas e todos os tipos de amianto são 
comprovadamente cancerígenos  ao ser humano, inclusive a crisotila, existente 
no Brasil. Não há  dose segura para o risco de câncer; a única quantidade 
de amianto que protege é a exposição zero, ou seja, exposição nenhuma.
É a posição da OMS, da IARC (Agência Internacional para a Pesquisa 
do Câncer), da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da 
Organização Mundial do Comércio (OMC) e do Instituto Nacional de 
Saúde e Pesquisa Médica, o INSERM, da França, do Instituto Nacional de 
Saúde Ocupacional, o NIOSH, dos Estados Unidos. Também a da Fundação 
Oswaldo Cruz (Fiocruz) e do Instituto Nacional do Câncer (Inca), no Brasil.
GIANNASI: LEI PAULISTA RESPALDA INTERDIÇÃO DE CARGAS
“Assim, respaldados pela lei paulista e a decisão do STF, eu e as vigilâncias 
sanitária estadual e a do Guarujá flagramos, em 8 junho de 2009, 26 toneladas de amianto 
in natura chegar à Cortês [Transportadora e Armazéns], no Guarujá, via Rápido 900”, relata
 Fernanda Giannasi. “Interditamos a carga, determinando imediato retorno a Minaçu.
Interditamos outras 3.100 toneladas, já estocadas no pátio e que iam ser despachadas 
para a Ásia.”
As cargas de amianto são da SAMA, empresa responsável pela única mina de amianto
 em exploração no Brasil. É a mineradora do grupo Eternit, o maior do país no setor. Ela
 fica em Minaçu, norte de Goiás, para onde as 26 toneladas retornaram.
A Rápido 900 é uma das duas transportadoras autorizadas pelo MTE a levar o produto 
in natura de Minaçu para os estados onde ainda é permitida a sua utilização. 
A São Expedito, a outra. A auditora fiscal do MTE e as vigilâncias sanitárias 
interditaram ambas por trafegarem no estado de São Paulo, carregando o material 
proibido aqui.
A Cortês atua como despachante alfandegário da SAMA junto à Receita Federal. 
Circulam pelas suas instalações cerca de 180 mil toneladas de amianto por ano, 
exportadas principalmente para a Ásia, já que o mercado interno do mineral 
cancerígeno está cada vez  mais restrito. Em seus pátios e armazéns, 
as cargas são transferidas para contêineres marítimos,  armazenadas e 
desembaraçadas. Depois, transportadas ao porto de contêineres da 
Santos-Brasil, a 6 km de distância.
AUTUADA: “DIREITOS ILEGALMENTE CERCEADOS PELA AUDITORA”
A Cortês entrou com várias medidas judiciais contra a interdição das cargas e a 
proibição  de exportação, visando também afastar Fernanda Giannasi das inspeções. 
A empresa diz:
A auditora fiscal do trabalho, sra. Fernanda Giannasi, realmente interditou 
indevidamente algumas cargas de amianto alocadas em nossa sede. Essas 
cargas já foram desinterditadas em razão de ordem judicial e encaminhadas 
ao destino. Ressalte-se que nessas medidas jurídicas ficou constatado por 
perito judicial que nossa empresa adota cumpre todas as normas de segurança 
sem expor nossos trabalhadores ou o meio ambiente a qualquer risco. 
Assim, resta evidente, que as medidas judiciais apresentadas visaram 
restabelecer os nossos direitos que foram indevida e ilegalmente cerceados 
pela auditora fiscal.
Entendemos que sra. Fernanda Giannasi não possui a necessária isenção de 
ânimo, tampouco desinteresse, para fazer fiscalizações em instalações que digam 
respeito ao amianto, tendo em  vista que é ativista pelo seu banimento e, nessa 
condição, participa pelo menos das seguintes  entidades contrárias ao amianto: 
ABREA-Associação Brasileira dos Expostos o Amianto e Ban Asbestos 
Network no cargo de Coordenadora da Rede Virtual Cidadã pelo Banimento do 
Amianto na América Latina.
Não foi por outro motivo que o juiz da 24ª Vara Federal de São Paulo concordou 
que referida funcionária pública não pode fiscalizar a nossa empresa. É tão 
evidente sua parcialidade que o próprio juiz disse: “… é pertinente o pedido de 
determinar que a Sra. Fernanda Giannasi se  abstenha de fiscalizar a empresa 
dado que a sua participação em rede virtual para banimento do amianto na 
América Latina, na qual é coordenadora, revela evidente parcialidade na 
condição de Fiscal do Ministério do Trabalho”.
DESEMBARGADORA ANULA DECISÃO CONTRA FERNANDA 
FISCALIZAR AMIANTO
“A guerra de liminares favoreceu inicialmente a Cortês, permitindo que exportasse 
as primeiras 3.100 toneladas interditadas; a Justiça de Santos cancelou a ação da 
vigilância sanitária municipal”, diz Fernanda Giannasi. “Só que a empresa continuou 
a receber, transportar e exportao amianto. Autuei-os novamente. Ela obteve, então, 
uma sentença de primeira instância da Justiça Federal de Santos que determinou 
que me abstivesse de fiscalizar a empresa. O juiz aceitou a tese de que não 
havia imparcialidade na minha ação, mas frustrou as pretensões da empresa quando 
a proibiu de continuar a receber cargas de amianto até decisão final.”
“Como a minha defesa está a cargo da Advocacia Geral da União [isso ocorre quando 
funcionários públicos federais são processados devido ao exercício da função], a AGU 
entrou com recurso [agravo de instrumento], que foi apreciado pela desembargadora 
federal Salette Nascimento”, prossegue. “A desembargadora [segunda instância] 
não detectou nada que me impossibilitasse de fiscalizar a Cortês e anulou a decisão de 
primeira instância.”
A propósito, a Sama, dona das cargas interditadas, entrou com ação na Justiça 
Federal do Distrito Federal (trechos abaixo), para afastar Fernanda Giannasi, da 
fiscalização do amianto da empresa. Pediu que antes mesmo de julgada a ação, 
fosse concedida tutela antecipada. Ou seja, a auditora fosse afastada imediatamente 
da inspeção. O juiz Jamil Rosa de Jesus Oliveira, da 14ª Vara Federal, 
negou a tutela antecipada (documento mais abaixo)
“A Cortês tem recorrido em várias instâncias do Poder Judiciário para impedir a 
fiscalização da empresa”, continua a auditora fiscal. “Num desses processos, o juiz 
pediu à Polícia Federal que investigasse o caso.”
Em 25 de agosto de 2010, o delegado Cássio Luis Guimarães Nogueira convocou-a 
para depor nos autos do inquérito policial instaurado a pedido do Juiz da 3ª Vara da 
Justiça Federal de Santos/SP, em decorrência de outro processo movido pela 
Cortês para impedir a fiscalização em suas instalações.
“MEU INDICIAMENTO PELO DELEGADO DA PF JÁ ESTAVA DECIDIDO”
O depoimento de Fernanda Giannasi foi no dia 9 de fevereiro de 2011. Saiu 
indiciada por abuso de poder.
“Estou perplexa, pois compareci para prestar esclarecimentos e colaborar no 
processo. Estranhei o tom agressivo do delegado, o tempo todo. Desde o início, 
deixou claro que não se influenciaria pelo o que eu dissesse, o meu indiciamento 
já estava decidido.”
“Ele me perguntou se já havia sido processada criminalmente. Disse que sim, e 
pelos 
detratores de sempre, que querem me tirar da fiscalização do amianto, para ter no setor 
alguém sem experiência que não lhes crie problemas. Mas sempre fui absolvida.”
O delegado Cássio Luis bateu na tecla de que Fernanda Giannasi não pode ter opinião 
e tem de declinar conflito de interesses. Sobre isso, ela diz ao Viomundo:
“Não tenho conflitos de interesse, pois não trabalho para ninguém a não ser o Ministério 
do Trabalho e Emprego, e não tenho qualquer outra remuneração. Sou concursada 
há 28 anos, tenho dedicação exclusiva e sou carreira típica de Estado. Coordeno uma 
rede virtual de cidadão, pela internet, trocando experiências e debatendo 
os riscos do amianto à saúde dos trabalhadores e da população.”
“Sigo à risca o parecer da AGU, que determinou que eu fizesse ações conjuntas com 
a vigilância sanitária, embora alguns Juízes do Trabalho entendam que a competência 
da fiscalização dos ambientes de trabalho e onde haja vínculo empregatício é exclusiva 
do Ministério do Trabalho e Emprego. As vigilâncias sanitárias (do estado, regional e 
municipal) só não vão junto quando há liminares que as impedem, como ocorreu nas 
fábricas de fibrocimento usuárias de amianto em Leme e Hortolândia. Aí, fui com o 
Ministério Público do Trabalho.”
“Nas fiscalizações, não emito juízo de valor acerca da exposição às fibras 
de amianto. Apenas aplico a lei em vigor no estado de São Paulo, referendada 
e ratificada pelo STF desde 2008. Só autuo empresas com irregularidades, 
entre as quais as que transportam, armazenam  e exportam o amianto, bem 
como as que o comercializam e o utilizam.”
“Como o meu direito de defesa foi cerceado – o delegado não me permitiu concluir uma 
resposta! -, optei por permanecer calada e somente ser ouvida em Juízo, onde terei 
assegurado amplo direito de defesa garantido por lei”, explica Fernanda. “Até agora não 
sei o completo teor das denúncias contra mim, pois ele [o delegado da Polícia Federal 
de Santos] não quis me fornecer sequer cópia da mesma ou detalhes de seu conteúdo.”
Ao final do depoimento, Fernanda assinou um documento onde estava escrito:
Cientificada das imputações que lhe são feitas e de seus direitos constitucionais, 
inclusive o de permanecer calada, a interrogada respondeu que ‘a 
interrogada devidamente esclarecida  de seus direitos constitucionais, manifesta 
neste ato desejo de permanecer calada e de só responder às perguntas que lhe forem 
formuladas em juízo e se forem objeto afinal de processo criminal, de forma 
que possa melhor se orientar com seu advogado ou aquele que lhe for designado 
pela Advocacia Geral da União…’
Indiciamento significa que o inquérito, depois de concluído, será enviado ao 
Ministério Público Federal. Lá, um promotor de justiça federal analisará o caso, 
para então decidir se instaura ou não processo crime pelo suposto abuso 
de poder.
Solicitamos à assessoria de comunicação da Polícia Federal entrevista com o 
delegado Cássio  Luis Guimarães Nogueira para falar sobre o indiciamento 
de Fernanda Giannasi. A resposta à solicitação veio no e-mail abaixo.
RECONHECIMENTO MUNDIAL VS. AMEAÇAS DE MORTE E IINTIMIDAÇÕES
Fernanda é incontestavelmente a maior referência no Brasil sobre o amianto. 
Seu trabalho é reconhecido no mundo inteiro.
“Ela é a agente de saúde pública mais dedicada, corajosa e talentosa enfrentada 
pela indústria do amianto em qualquer lugar do mundo”, elogia Barry Castleman. 
“Ela combina as funções de funcionária pública (como auditora-fiscal do trabalho), 
ativista (como coordenadora de uma rede virtual) e, sobretudo, cidadã exemplar.”
Fernanda também incomoda, aqui e lá fora. Em abril de 2001, Denis Hamel, diretor do 
Instituto do Crisotila do Canadá mandou uma carta ao então Ministro do Trabalho e 
Emprego 
do Brasil, Francisco Dornelles, pedindo “para repreendê-la e enquadrá-la”.
No documentário franco-canadense A morte lenta pelo amianto, Hamel justifica a 
retaliação: “Ela dá declarações mentirosas, exageradas, que prejudicam enormemente 
os esforços da indústria”. Ele se refere aos esforços da indústria para convencer sobre a 
inocuidade do amianto branco crisotila e seu uso seguro e responsável pela indústria em 
sua tese chamada de “uso controlado”.
Nem uma ameaça de morte calou Fernanda. Em 28 janeiro de 2004, três auditores fiscais do 
trabalho e o motorista do Ministério do Trabalho e Emprego foram assassinados em Unaí, 
Minas Gerais. Cinco dias depois da chacina, uma carta anônima, intimidatória, ameaçando-a 
abertamente, foi enviada à sua casa.
É um dos casos documentados no relatório Linha de Frente: Defensores dos 
direitos humanos no Brasil de 2002 a 2005, organizado pela Justiça Global.
Na ocasião, segundo esse relatório, Fernanda Giannasi enviou e-mail pessoal ao então 
ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini (ex-presidente da CUT e atualmente 
deputado federal PT-SP), pedindo garantias de vida e apoio para realizar seu trabalho 
na fiscalização trabalhista. Ele respondeu de forma muito solidária.
Na prática, porém, Fernanda foi impedida de inspecionar e designada a fazer serviços 
burocráticos numa sala sem telefone e computador. Era o arquivo-morto da seção. Assim, 
em vez de protegê-la, Berzoini puniu-a com o confinamento, impossibilitando-a de fazer o 
seu trabalho por quase dois meses, sob os olhares indignados de parte do movimento 
sindical e revolta das vítimas do amianto. Sob pressão, inclusive da imprensa, o então 
superintendente regional do trabalho, Heiguiberto Della Bella Navarro (“Guiba” ), determinou 
o retorno de Fernanda à fiscalização, sem maiores explicações.
Recentemente, Fernanda recebeu duas cartas da Alemanha, postadas na Universidade de 
Berlim. O autor faz ameaças de morte e defesa radical do amianto, apresentando-o como 
sinônimo de Eternit, material indestrutível, capaz de salvar a humanidade da contaminação 
radioativa.
“Quem deveria estar protegendo a Fernanda é justamente quem tenta, agora, 
incriminá-la por abuso de poder”, diz, indignado, Eliezer João de Souza, 69 anos, 
presidente da Abrea, que, em 2000, teve de extrair nódulos no pulmão, causados 
pelo amianto.
“FERNANA ESTÁ AJUDANDO MILHÕES DE JOVENS A NÃO FICAR 
DOENTES POR CAUSA DO AMIANTO”
Todos os tipos de amianto causam: 1) asbestose — endurecimento  do pulmão, que 
perde progressivamente a capacidade de expandir, levando lentamente à morte por asfixia; 
2) câncer de pulmão, laringe, aparelho digestivo e ovário; 3) mesotelioma, que pode 
ser de pleura (membrana que reveste o tórax), peritônio (membrana que reveste a 
cavidade abdominal) ou pericárdio (membrana que recobre o coração). É  um tumor 
maligno e extremamente agressivo, incurável e fatal, que pode aparecer 35, 40 e 
até 50 anos após  o primeiro contato com o amianto.
“Por ano, o amianto causa 107 mil mortes em todo o mundo. Entre as vítimas, não estão 
só trabalhadores, mas também consumidores do produto, desmentindo a indústria que 
diz ser apenas um problema de saúde ocupacional”, informa Castleman. “Em 10 de 
março, testemunhei num julgamento em Oakland, Califórnia, num caso de 
mesotelioma de pleura em homem que vendia alimentos nos arredores de fábricas. 
De 1970 a 1980, ele passava uma hora por dia na frente de uma fábrica de produtos 
de construção, de onde os trabalhadores saíam cobertos de poeira de amianto, 
para comprar comida dele. Esse amianto era a crisotila, que ainda hoje é 
extraída no Brasil.”
“A mídia deveria gastar menos tempo em falar sobre astros de cinema e TV e mais 
sobre pessoas exemplares, como a Fernanda Giannasi. Os jovens também deveriam 
ler sobre as pessoas que fazem do mundo um lugar melhor e não exigem como 
pagamento nada além do que poder fazer o seu trabalho bem”, arremata Castleman.

Fonte: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

terça-feira, 29 de março de 2011

Amianto pode matar mais de 1 milhão no mundo até 2030


Mina de amianto
Especialistas em saúde pública alertam para um grande aumento no número de mortes nas próximas duas décadas devido ao uso do amianto pela indústria da construção civil, sobretudo nos países em desenvolvimento.
Uma investigação conjunta da BBC e do Consórcio de Jornalistas Investigativos revelou que mais de 1 milhão de pessoas podem morrer até 2030 devido a doenças ligadas à substância.
Com um consumo de amianto 50 vezes maior do que os Estados Unidos, o Brasil é o quinto maior consumidor do produto em uma lista liderada por China, Índia e Rússia.
O amianto é uma fibra natural presente em minas. Barato e resistente ao calor e ao fogo, é misturado ao cimento para construção de telhas e pisos.
No entanto, a substância, cujo uso é proibido ou restrito em 52 países, solta fragmentos microscópicos no ar que podem provocar diversas doenças pulmonares quando inaladas, inclusive alguns tipos de câncer.
Amianto branco
A investigação conjunta do Consórcio de Jornalistas Investigativos e da BBC revelou que a produção de amianto continua na ordem de dois milhões de toneladas.
A indústria do amianto movimenta bilhões de dólares, sobretudo com exportações para países em desenvolvimento, onde as leis de proteção e a fiscalização são mais brandas.
Apesar da proibição e restrição ao uso, uma variação da substância conhecida como amianto branco é produzida e exportada para diversos países.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), mesmo o amianto branco pode provocar câncer.
Alguns cientistas temem que a disseminação do amianto branco possa prolongar uma epidemia de doenças relacionadas à substância.
"Minha visão é de que os riscos são extremamente altos. Eles são tão altos quanto qualquer outra substância cancerígena que vimos, com exceção, talvez, do cigarro", afirma Vincent Cogliano, cientista da Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer da OMS.
Segundo a OMS, 125 milhões de pessoas convivem com amianto no trabalho. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 100 mil trabalhadores morram por ano devido a doenças relacionadas ao amianto.
Nos Estados Unidos, a indústria da construção civil não usa mais nenhum tipo de amianto. No entanto, o número de mortes devido à substância está chegando ao ápice, devido ao longo período em que a doença ainda pode se manifestar.
No México, mais de 2 mil empresas usam o amianto em diversos produtos, como freios, aquecedores, tetos, canos e cabos. Mais de 8 mil trabalhadores têm contato direto com a substância.
Doença
O Canadá é um dos maiores produtores mundiais de amianto branco e exporta o produto, mas proíbe seu uso no país.
Na província de Quebec, Bernard Coulombe, que é proprietário de uma mina, afirma que o amianto branco exportado por ele é vendido "exclusivamente para consumidores finais que possuem os mesmos padrões de higiene industrial do Canadá". Ele afirma que sua indústria possui amparo legal para exportar o produto.
Não muito longe dali, a pintora amadora Janice Tomkins luta contra mesotelioma, uma doença rara ligada ao amianto. Ela acredita ter contraído a doença há vários anos devido à exposição ao amianto azul e marrom, variações hoje proibidas internacionalmente.
Ela luta para impedir que o governo do Quebec libere um financiamento de US$ 56 milhões para que a mina próxima a sua casa possa expandir a produção, de olho em mercados emergentes como a Índia.
Fonte: BBC